segunda-feira, 2 de julho de 2012

A propósito do último livro do General Loureiro dos Santos


J. Brandão Ferreira







«As Forças Armadas são o poder da consciência nacional, o braço da Pátria, a Nação em atalaia a vigilância dos túmulos, a segurança do presente e do porvir. Nobreza não há maior que a da sua missão».
Batista Pereira
«Directrizes de Rui Barbosa», 1938
Instituto Superior de Estudos Militares, sala à pinha, imprensa escrita e falada, camaras da televisão. Era dia 30 de Maio de 2012.
Esperava-se gente importante e outros apenas com funções importantes, que apareceram.
Estavam assim reunidos os ingredientes para haver impacto mediático se é que, fora do futebol, isso é possível…
Falaram o General Ramalho Eanes, que apresentou o livro e o autor. Dois bons discursos, se me é permitido opinar.
O principal objectivo do livro – explicar a necessidade de existência das Forças Armadas, numa linguagem (e também no preço e no número de páginas), acessível ao grande público – não deixa, outrossim, de ser uma boa ideia, embora tardia. Uns 25 anos tardia.
Não havendo pastel de bacalhau nem espirituoso dito de honra, cedo as tropas «recolheram a quarteis».
Durante o «destroçar», um senhor general, cujo nome não interessa referir, atirou-me «en passant»: «Quando é que você escreve um discurso destes?»
Não cogito a intenção da frase (o senhor general um dia mo dirá se assim o entender), mas achei curioso e fui ler os discursos.
De facto não escreveria nada daquilo, dadas as circunstâncias actuais, apesar de reafirmar a bondade dos textos e até de relevar a frase com que o autor do livro acabou a sua intervenção: «Até porque as crises financeiras e económicas conseguem levar-nos os anéis, mas as crises de segurança além dos anéis podem arrancar-nos os dedos…, quando não as próprias vidas».
Por isso e apesar daquilo que nos vem sendo matraqueado, desde 1789, sobre a «igualdade», nós somos todos diferentes (graças a Deus e não ao «supremo arquitecto»), o meu discurso seria diferente.
Uma das missões de um chefe militar, quiçá a principal, é a de preparar as suas tropas (e a Nação) para a «guerra que há - de vir», e uma das razões fundamentais de muitos desastres militares, foi justamente esquecer este princípio, sendo o esforço feito no sentido de «combater melhor a guerra que passou»…
Ora o livro e os discursos não estando voltados para o passado vêm sobretudo falar da importância que as FAs devem ter numa sociedade (democrática), o que representa uma «guerra» em que se foram perdendo todas as batalhas, nos últimos 25 anos…
Por isso uma das opções do meu discurso seria tentar explicitar as razões e o porquê dessas derrotas, pois sem tal se perceber não poderemos obter sucesso no futuro, por mais livros que se escrevam e discursos que se façam…
Sobre este assunto já escrevi o suficiente para me fazer doer os dedos (e o espírito) pelo que sobre isso não me vou castigar e aos leitores, novamente.
Colocar na interrogativa algumas decisões, governamentais, tomadas sobre as FAs, nos últimos tempos, sem apontar opções claras, é uma questão de estilo que não discuto. Tem a ver com as tais idiossincrasias das desigualdades humanas.
Já na listagem resumida das «ameaças» foi deixada de fora aquela que tenho por mais importante de todas, pois se não a anularmos, essa ameaça impedirá, de per si, que possamos fazer face a qualquer outra.
Essa ameaça é representada pela classe política que tão mal tem (des)servido o País e o próprio sistema político que a permite. Ambos os factores são causa e efeito um do outro. Esta causa/efeito tende a perpetuar-se.
Deixando de lado incompetências várias, corrupções, negociatas, etc., que também são consequência da causa/efeito e têm que ser dirimidas pela acção política, pela polícia e pelos tribunais, existem dois eixos de orientação política, que se têm que considerar deliberados (pois caso contrário só uma demência avançada os poderia justificar).
Estamos a falar da desconstrução do Estado e da subversão da Nação (tendo presente que o estado é a nação politicamente organizada).
A principal razão para que tal suceda resulta de, em Portugal (e na Europa Ocidental), imperar a ideia «internacionalista» em detrimento do desiderato nacional.
Ora se as principais forças políticas (e quem lhes puxa os cordelinhos – seguramente, não o povo) defendem que o ideal a seguir é sermos cidadãos do mundo, até ver da “Europa” (seja lá o que isso for), o conceito de Nação passa a ser um formidável obstáculo a semelhante objectivo.
O corolário lógico é a sua destruição; o método é subverte-la.
O sucesso tem sido tão grande – podemos apresentar páginas de exemplos que o corroboram – que o país se está a suicidar lenta, mas literalmente. Basta atentar na «diluição» acelerada que a emigração e imigração, potencia, e que a demografia negativa exponencia.
Toda esta trama vai fazendo com que a soberania esteja a ser transferida dos órgãos nacionais que a representam, para as instituições internacionais representadas pela ONU, NATO, etc., e, principalmente a União Europeia.
Isto quer dizer que, se as funções tradicionais do Estado estão em alienação – não se devendo esquecer as privatizações, sem lei nem roque, que nos vão retirar as empresas a energia, a água, a terra, etc., até ficarmos sem nada em mãos portuguesas, para que é preciso o Estado?
Para já o que resta do Estado serve, fundamentalmente, para ser correia de transmissão de poderes exógenos, cobrar impostos e garantir os negócios necessários à sobrevivência de amigos e familiares.
Neste estádio as FAs além de serem desnecessárias (até haver umas «europeias») são outrossim um perigo, pois guardam no seu «ADN» os genes da Nação.
Com isto dito, lembraria ao senhor PM e MDN presentes, que os políticos não foram mandatados para acabar com «aquilo» que Afonso Henriques começou e dura há quase 900 anos.
E lembraria à Instituição Militar e ao povo português, que o dever das FAs é defender a Nação – e não a República como, certamente por lapso, foi referido.
Estas seriam as vertentes principais do discurso que faria.
Pois, pelo andar da carruagem, não iremos ficar só sem os anéis, os dedos e, talvez a vida mas, também, sem a alma.